As receitas mineiras deliciosamente simples, feitas no fogão de lenha, há séculos são passadas de geração em geração, mas foi somente na década de 1970 que elas foram reunidas em um livro: o icônico “Fogão de Lenha”, de autoria de Maria Stella Libânio Christo. Stella foi pioneira em levantar a bandeira a favor da gastronomia mineira, quando, segundo ela, “só se falava em novidades estrangeiras à mesa”.
Depois de anos de pesquisa, ela reuniu uma bela coleção de cadernos de receitas das bisavós mineiras e escreveu sobre os gostos, os aromas e as tradições gastronômicas das Minas Gerais – um patrimônio cultural acumulado em três séculos de tradição -, temperado com deliciosos textos de Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Cecília Meirelles, Manuel Bandeira, Pedro Nava, Cora Coralina, Fernando Sabino, Rubem Braga e outros. São mais de 500 receitas, entre quitutes, quitandas, doces e licores caseiros. Quem não tem, deve dar um jeito de adquirir um exemplar, que pode ser encontrado em sebos.
Em 2010, tive a honra de conhecê-la em um jantar preparado por sua neta Isabella. Para a minha alegria, sentei-me em uma mesa ao lado da dela, e logo levei o meu exemplar do livro para ser autografado. Rapidamente ela correu para a primeira página, e encontrou o que procurava. Dona Stella me disse que somente a primeira edição reproduzia páginas do caderno de receitas de sua mãe, repassado a ela.
A escritora me advertiu que eu olhasse com atenção as receitas do livro, porque elas continham alguns erros. “O livro foi revisado por padres da editora Vozes, que não entendiam nada de culinária”, explicou. Com aquela letra desenhada das avós de antigamente, dona Stella escreveu a seguinte dedicatória:
“Para Clara, as receitas das vovós mineiras, com carinho e amizade. Maria Stella”
Guardo com carinho as lembranças desse encontro memorável!
“Comida mineira é a alma de nosso agasalho. É o elo da família em torno da mesa. É saudade e descontraimento, é lembrança de infância”. Maria Stella Libânio Christo (Fogão de Lenha, 1977)